Assine o abaixo-assinado!

Assine o abaixo-assinado!
Praça São Francisco, Patrimônio da Humanidade!

sábado, 17 de abril de 2010

Alessandra Leão



Em meio à recente explosão de jovens cantoras cool, urbanas, muitas delas centradas no samba carioca, três anos atrás saltou aos ouvidos de alguns privilegiados o disco de estréia da pernambucana Alessandra Leão, Brinquedo de Tambor.

Ao invés de polimento, suavidade ou as sonoridades mais hype, o CD da ex-integrante do Comadre Fulozinha gritava sua aspereza, revelando também uma surpreendente compositora, com um raro frescor no manejo da música tradicional do litoral e Zona da Mata nordestina. O paralelo mais imediato para situar as referências seria o amigo Siba e sua Fuloresta do Samba, que também escondem por trás de sonoridades ancestrais uma radical atualidade.

Mas o disco de estréia, ainda que farto em contrapontos e usando algumas guitarras, ainda era um tanto reverente às tradições de que se apropriava. Pois neste novo CD -
Dois Cordões, a coisa amadureceu como se décadas, e não anos, houvessem passado.
Nele, a idéia de arranjo e sonoridade (obra do produtor/arranjador/instrumentista Caçapa) é inseparável do resultado final: uma combinação 100% inédita dos timbres de três guitarras elétricas (de 6, 7 e 12 cordas), em camas quase nunca harmônicas, mas sim complexamente polifônicas. Tecidos sonoros que devem tributo tanto aos estudos eruditos europeus de contraponto e fuga quanto a escuta atenta dos mestres da música africana, igualmente polifônica e não-harmônica.

E essa meticulosa rede de vozes instrumentais é alicerçada à terra não por acaso por um místico (e mítico) trio de ilús: tambores de pela utilizados nos terreiros de Xangô (como é conhecido o candomblé em Pernambuco). E a moldura do disco é essa. Pouco mais, pra dar molho: um pandeiro aqui, caxixis ali, talking drums, güiro, ganzá, eventuais coros.

Só que nada disso seria mais do que curioso ineditismo se, sobre essa tessitura, não flutuasse como ave rara a voz de Alessandra. Uma voz por vezes doce e jovial, por vezes crestada numa alegria ancestral que ecoa essa gente simples dos interiores de Norte e Nordeste, gente que canta porque não sabe não cantar. Essa gente humilde e feliz, feliz de uma felicidade muitas vezes incompreensível para urbanos e/ou sulistas.

Mas do que fala essa voz? Sobre o que escreve essa compositora única, que abre as asas sobre o chão de terra e paira sobre o mundo, sobre sentimentos universais, sobre dramas de qualquer cidadão do planeta? Fala de (ser) par, de dualidade, de chegadas e de partidas. Fala de Ogum e de Iemanjá. De amor e violência, fogo e mar, tradição e contemporaneidade. África e América, elétrico e acústico.

Tensão e festa.
Fala de gente.
E é essa, acima de tudo a força desses Dois Cordões. É um disco de gente. Gente falando de gente.

Texto: Arthur de Faria

http://www.myspace.com/alessandraleao

ALESSANDRA LEÃO - Dois Cordões [2009]

01. Varanda
02. Boa hora
03. Bom dia
04. Atirei [Part. Jorge du Peixe/Nação Zumbi]
05. Fogo [Part. Victoria Sur e Florencia Bernales]
06. Luzia, rainha do baianá/ Tombo do navio
07. Trancelim
08. Andei
09. Partilha
10. Vou me balançar
11. Ai, dendê
12. Chave de ouro [Part. Kiko Dinucci]

Sinta a essência
aqui.

Ficha Técnica:
Alessandra Leão voz, pandeiro, caxixis e composições
Caçapa arranjos, producao musical e guitarra de 12 cordas.
Juliano Holanda guitarra de 6 cordas e vocal
Rodrigo Samico guitarra de 7 cordas e vocal
Carlos Amarelo Ilú, tama, triângulo, tamborim e vocal
Guga Santos Ilú, tama e vocal
Homero Basílio Ilú e caxixis

CONTATOS / CONTACTS:
Vitrô Recife Produções
55 81 81 92449612 / 91952181
vitroproducoes@gmail.com / dois.cordoes@gmail.com












Orchestra Baobab - Nijaay

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Música - Cultura - Mestizaje




O
Frontline Guerrilla Sonora é um soundsystem coletivo, vindo da Cidade do México, formado por Joaquín Echenique, Quique Macias, DJ Zeus e outros artistas convidados.
Os caras mantém a algum tempo um site muito interessante, sobre cultura de rua, música e política, o http://www.front-line.com.mx. A nova empreitada dos caras foi um EP com 4 sons, chamado No Suena Mal onde eles fazem um mix de reggae, drum'n'bass e hip-hop. Confira aê o trampo e a mistura interessante dos caras.



Frontline Guerrilla Sonora - No suena mal [ep]

1. Intro
2. Cuando
3. No suena mal
4. Coming soon (Featuring Lengualerta & Olinka)

Sinta a essência aqui.

sábado, 10 de abril de 2010

Os Afro-Sambas de Baden Powell e Vinícius de Moraes

Pouco antes de morrer, em 2000, Baden confessava que não tocava mais o repertório de Os Afro-sambas. O violonista havia virado evangélico e dizia que alguns dos temas falavam do demônio, de coisas ruins e que por isso haviam sido esquecidos.

O primeiro encontro entre os dois é marcado de lendas e com várias versões. Mas o importante é saber que Vinícius ficou absolutamente seduzido pelo som de Baden e o convidou para formarem uma parceria. Mesmo assustado com o convite, Baden topou e praticamente morou três meses na casa do "Poetinha", onde escreveram várias canções, em 1962. A primeira leva tinha mais de 25 canções, e reza a lenda também, que além da parceria, Vinícius foi o "professor" de Baden em outra arte: a bebida. Regados à uísque, os dois continuaram compondo.
Vinícius estava encantando com o LP Sambas de Roda e Candomblés da Bahia, que havia recebido de presente de Carlos Coqueijo Costa. Baden também ficou impressionado com o disco e, por influência do capoeirista Canjiquinha, começara a freqüentar rodas de capoeiras e ia à terreiros e aprendia mais sobre o candomblé. A idéia de fazer um disco sobre o tema fascinou os dois.

Os dois começaram a escrever canções inspirados no tema: "Bocoché", "Canto de Xangô", "Canto de Iemanjá", "Canto do caboclo Pedra Preta" e o clássico "Canto de Ossanha", que faria sucesso anos depois navoz de Elis Regina. Baden, por sua voz, estava estudando cantos gregorianos com o maestro Moacyr Santos e percebeu que os cânticos afros tinham semelhanças e resolve produzir melodias que em cima das duas vertentes.
O projeto ficou engavetado e só viu a luz do dia, quatro anos depois, em 1966. Foi quando Vinícius ofereceu o projeto à Roberto Quartin, dono do selo Forma, que produzia discos extremamente sofisticado. Quartin topou de imediato a idéia de lançar Os Afro-sambas.
Gravado entre os dias 3 e 6 de janeiro, Quartin convidou o maestro Guerra Peixe, o grupo vocal Quarteto em Cy e um coral de "músicos amadores" formado por Nelita e Teresa Drummond, Eliana Sabino (filha do escritor Fernando Sabino), Otto Gonçalves Filho e César Proença e uma jovem aspirante a atriz chamada Betty Faria. E é Betty Faria que divide os vocais com Vinícius na imortal "Canto de Ossanha" que abre o disco.
Guerra Peixe optou por dar o disco uma sonoridade mais rústica, como se estivesse sendo, de fato, gravado, em um terreiro, o que acabou sendo um dos grandes charmes do disco, embora Baden criticasse justamente isso, anos depois, considerando o disco "mal gravado". Enquanto Vinícius murmura as letras quase em tom de súplica, Betty Faria reforça as sílabas finais de cada frase, além do acompanhamento do Quarteto em Cy em quase todas as faixas.
Baden era o responsável por climas todas as melodias e até cuidava da percussão. Seu toque inconfundível norteia a bela "Lamento de Exu", que encerra o disco, enquanto Vinícius voa quase solo em "Canto do Caboclo Pedra Preta". Aliás, Vinícius tentou cantar de maneira mais grave, como 'um preto velho", em faixas como "Canto de Xangô". Vale ressalatar "Bocoché", com um clima quase etéreo.
O disco rendeu excelentes críticas e vendagem e solidificou de forma definitiva a carreira de Baden Powell. Após a parceria com Vinícius, Bande deixou de ser um tímido músicos que vivia de pequenas participações na noite carioca para ser um músico mundialmente famoso e indo embora do Brasil definitivamente vivendo por mais de 20 anos na França e cinco na Alemanha.
Apesar de já estar definitivamente inserido como um dos mais
importantes discos da música popular brasileira, o comentário de Vinicius de Moraes na contra capa do LP é mais elucidativo do que qualquer outra observação que se queira dar ao trabalho: "Essas antenas que Baden tem ligadas para a Bahia e, em última instância para a África, permitiram-lhe realizar um novo sincretismo: carioquizar dentro do espírito do samba moderno, o candomblé afro brasileiro dando-lhe ao mesmo tempo uma dimensão mais universal (...) nunca os temas negros de candomblé tinham sido tratados com tanta beleza, profundidade e riqueza rítmica ... "
Fonte: Beatrix

Vocais: Vinicius de Moraes, Quarteto em Cy e Coro Misto
Sax tenor: Pedro Luiz de Assis
Sax barítono: Aurino Ferreira
Flauta: Nicolino Cópia
Violão: Baden Powell
Contrabaixo: Jorge Marinho
Bateria: Reisinho
Atabaque: Alfredo Bessa
Atabaque pequeno: Nelson Luiz
Bongô: Alexandre Silva Martins
Pandeiro: Gilson de Freitas
Agogô: Mineirinho
Afoxé: Adyr Jose Raimundo
Produção e direção artística: Roberto Quartin e Wadi Gebara
Técnico de gravação: Ademar Rocha
Contracapa: Vinicius de Moraes
Fotos: Pedro de Moraes
Capa: Goebel Weyne
Arranjos e regência: Maestro Guerra Peixe




A1 Canto de Ossanha - 03:23
A2 Canto de Xangô - 06:28
A3 Bocoché - 02:34
A4 Canto de Iemanjá - 04:47
B1 Tempo de amor - 04:28
B2 Canto do Caboclo Pedra-Preta - 03:39
B3 Tristeza e solidão - 04:35
B4 Lamento de Exu - 02:16

Sinta a essência aqui.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Vielle Canaille

... Um cara que largou os riscos de lado e viveu intensamente cada segundo de sua vida. Axo que essa é a primeira definição que vem a minha cabeça quando falo de Serge Gainsbourg (1928-1991).
Gainsbourg foi um talentoso compositor francês, que passou com autoridade de mestre pelos mais variados estilos. Gravou do jazz ao reggae, passando pelo rock. Também fez trilhas sonoras para o cinema, chegando até a atuar em alguns filmes; mas o seu maior personagem era ele próprio. Viciado em cigarros e álcool (as lícitas), o cara colecionou escândalos e amantes durante toda a sua vida. Por sua cama passaram algumas das mulheres mais bonitas do mundo das décadas de 60 e 70, como Jane Birkin (com a qual teve uma filha, Charlotte Gainsbourg), Brigitte Bardot, Françoise Hardy, Catherine Deneuve, Vanessa Paradis, Isabella Adjani, France Gall. Sua personalidade era tão conturbada que suas músicas só faziam sucesso cantadas por outros artistas, ou anos depois.
No final da década de 70, quando o rock começou a invadir a França, Gainsbourg (sempre na contracorrente) viajou para a Jamaica, onde se apaixonou pelo reggae, e com a ajuda dos renomados produtores Sly Dunbar e Robbie Shakespeare gravou uma sequência fantástica de discos de reggae, que aliado ao seu francês se tornariam obras primas. Justamente no primeiro disco gravado na ilha caribenha surgiu mais uma polêmica na vida dele: O cara regravou uma versão em reggae, verdadeira "descontrução" do hino nacional francês, A Marselhesa, que foi duramente criticada por jornalistas e políticos franceses. Nada que atingisse uma figura que sempre viveu cercada de polêmicas.
Serge Gainsbourg passou dessa para uma melhor no dia 2 de março de 1991, consequência de um coração ja cansado da vida torta (ou bem vivida ?).

Serge Gainsbourg - Mauvaises Nouvelles des Étoiles [1981]

1. Overseas telegram
2. Ecce homo
3. Mickey Maousse
4. Juif et Dieu
5. Shush shush Charlotte
6. Toi mourir
7. La nostalgie camarade
8. Bana Basadi balalo
9. Evguenie Sokolov
10. Negusa Nagast
11. Strike
12. Bad news from the stars

Arranged By - Bruno Blum (tracks: 2.01 to 2.21) , Serge Gainsbourg (tracks: 1.01 to 1.13)
Backing Vocals - Judy Mowatt , Marcia Griffiths , Rita Marley
Bass - Robert "Robbie" Shakespeare*
Choir - I Threes
Compilation Producer - Bruno Blum
Drums - Lowell "Sly" Dunbar*
Guitar [Rhythm Guitar] - Radcliffe "Dougie" Bryan
Guitar, Piano - Michael "Mao" Chung*

Sinta a essência AQUI.



"Cansei da frase polida / por anjos da cara pálida (...) / agora eu quero a pedrada / chuva de pedras palavras / distribuindo pauladas."

Paulo Leminski